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IA x IE: Como não ser substituído pela Inteligência Artificial?


Muitos talvez pensassem que a automação iria substituir trabalhos repetitivos que eventualmente requerem pouca escolaridade ou conhecimento. No entanto, não tem sido bem assim.

O trabalho de advogados tem sido substituído por Inteligência Artificial, não só para a pesquisa jurídica e análise de documentos legais, mas também na redação de documentos e até na previsão de resultados dos casos.

A medicina também tem utilizado sistemas de IA para análise de dados clínicos, mas também para a descoberta de novos medicamentos, monitoramento de pacientes e na elaboração de diagnósticos.

De fato, de acordo com estudo da McKinsey, cerca de 30% do trabalho realizado por humanos pode ser substituído por máquinas e 5% dos empregos podem ser automatizados integralmente no futuro. Note que essa pesquisa foi realizada em 2017 e considera a tecnologia disponível na época, quando a IA ainda não estava tão avançada.

Como então preparar-se para um novo mundo onde seu trabalho pode ser substituído pela Inteligência Artificial?

Antes precisamos entender o que é a IA.

Inteligência artificial (IA) é um campo da ciência da computação que envolve o desenvolvimento de sistemas capazes de realizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana. A IA envolve a criação de algoritmos e modelos que permitem que os computadores processem informações, reconheçam padrões, tomem decisões e aprendam com base em dados.

A IA busca replicar algumas das capacidades cognitivas humanas, como o raciocínio lógico, a resolução de problemas, o aprendizado, a percepção visual e auditiva, a compreensão da linguagem natural e a tomada de decisões.

Assim, o que nos torna mais aptos do que ela? E mais, se a IA tem ganhado cada vez mais escala, tendo sido amplamente utilizada não apenas na advocacia e medicina, mas por professores, consultores, escritores, jornalistas, economistas e outros profissionais intelectuais, como então não nos tornarmos obsoletos para o mercado de trabalho?

Para chegarmos nessa resposta precisamos entender os limites da IA. A Inteligência Artificial, pelo menos até o momento, enfrenta alguns limites significativos, sendo eles:

1) Limitação criativa, pois embora possa gerar soluções baseadas em padrões existentes, ela geralmente não tem a capacidade de inovar, imaginar algo completamente novo ou ter insights intuitivos.

2) Incapacidade de elaborar pensamentos críticos. Os sistemas de IA não possuem uma compreensão contextual completa nem a capacidade de questionar pressupostos, avaliar criticamente informações ou aplicar julgamentos morais ou éticos complexos.

3) Dificuldades em compreender o contexto mais amplo e aplicar o senso comum humano, apresentando impedimentos para interpretar o sarcasmo, a ambiguidade, a ironia ou outras nuances da comunicação humana.

4) Impossibilidade de tomar decisões éticas e não possuir senso de responsabilidade. Por não sentir culpa, vergonha e não compreender questões como a justiça, imparcialidade e privacidade ela pode reproduzir preconceitos existentes nos dados de treinamento ou não ter a capacidade de ponderar os aspectos éticos e morais de uma decisão.

5) Questões relacionadas à confiabilidade e segurança, visto que os modelos de IA podem ser suscetíveis a ataques maliciosos, manipulação de dados ou funcionamento inadequado em determinados cenários, visto que não tem capacidade de julgamento para definição do que é “certo” e o que é “errado”, nem freios morais para atuar nessas situações.

6) Falta de empatia e compreensão emocional, já que a IA não possui emoções nem compreensão emocional verdadeira. Embora possa ser programada para reconhecer e responder a emoções humanas, ela não tem a capacidade de experimentar emoções ou empatia genuína.


Note que, exceto a criatividade e pensamento crítico, por serem habilidades cognitivas e não emocionais, cada um dos itens acima envolve a emocionalidade humana ou a Inteligência Emocional (IE), ou seja, a capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar suas próprias emoções, bem como de perceber e lidar com as emoções dos outros de forma empática e eficaz.

Mais do que isso, a IE envolve habilidades como autoconsciência emocional, autorregulação emocional, empatia, habilidades sociais e gerenciamento de relacionamentos, capacidades todas que nos tornam humanos e, portanto, incapazes de serem reproduzidas por um sistema de inteligência artificial.

A IA sim, nos permite avanços consideráveis, pela sua capacidade de processar uma quantidade absurda de dados, reconhecimento de padrões e análise de tendências e pode ser um instrumento poderoso para a evolução humana. Mas não pode substituir pontos essenciais do que nos torna humanos.

Dessa forma, embora a IA possa ser projetada até mesmo para reconhecer e interpretar emoções humanas, como expressões faciais ou entonação vocal, a verdadeira experiência emocional e a compreensão subjetiva das emoções são características exclusivas dos seres humanos. A inteligência emocional é fundamental para habilidades interpessoais, liderança, negociação e relacionamentos sociais, e não pode ser replicada totalmente por sistemas de IA.

Dito de outra maneira, talvez você deseje ter ao seu lado um robusto sistema de IA para fazer um diagnóstico preciso do seu caso médico, no entanto, quem você irá querer ao seu lado para cuidar, motivar, escutar e acolher, certamente será um humano. IA alguma irá substituir esse papel.

Assim, na sua profissão pergunte-se: o que o diferencia? Um palestrante ou um professor, por exemplo, até podem usar um sistema de IA para criar a estrutura e alimentar a sua aula. No entanto, somente ele poderá gerar empatia, ter carisma, gerenciar relacionamentos, compreender o momento dos alunos e responder apropriadamente à sua emocionalidade.

Sim, o que torna um bom professor ou profissional intelectual em parte é a produção e compilação de um bom conteúdo, sua capacidade crítica, mas outra parte muito mais significativa é o vínculo que criamos com ele. Isso jamais esquecemos. Isso jamais será superado.

E caso você tenha um filho(a), como prepará-lo para esse futuro? É um erro pensar que ele deve ser bombardeado com tecnologias para navegar bem nesse novo mundo. Pelo contrário, todas as disciplinas ligadas às humanidades como teatro, música, artes, filosofia, inteligência emocional, farão dele uma pessoa muito mais preparada para enfrentar os novos desafios onde o que nos diferencia é justamente o que nos torna humanos. Ou, em outras palavras, quanto mais a IA se expande, mais precisamos da nossa humanidade.


*Juliana Zellauy é especialista em Neurociências e Comportamento, com formação em Programação Neurolinguística, Psicologia Positiva e Mindfulness. Tem mais de 20 anos de experiência em desenvolvimento pessoal e corporativo, é palestrante, professora e autora do livro Inteligência Emocional da teoria à prática.

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