Esta semana é marcada, em algumas escolas do Brasil, pela volta às aulas presenciais, mesmo em meio à segunda onda da pandemia da Covid-19.
Apesar do modelo híbrido, que mescla aulas presenciais com remotas, muitas crianças e pais já se sentem ansiosos perante à expectativa de ressocialização e contato com outras crianças. ‘’Na volta às classes presenciais, as crianças podem se sentir angustiadas e inseguras. Se por um lado muitas desejam a volta à rotina escolar, em especial para rever e conviver com seus colegas e professores, por outro, algumas podem se sentir inseguras e mesmo oferecer grande resistência ao retorno à escola’’, explica Juliana Zellauy, especialista em comportamento e desenvolvimento humano.
Como lidar com este turbilhão de sentimentos? ‘’Para ajudar a criança nesse processo de retomada e a superar a ansiedade e o medo com inteligência emocional, precisamos em primeiro lugar, com uma escuta ativa, auxiliá-los a expressar e a identificar precisamente suas emoções: trata-se de medo, insegurança, ansiedade, angústia ou talvez uma mistura de vários sentimentos?’’, direciona Juliana. Em seguida, ela explica que é necessário mostrar, com gentileza, que todas as nossas emoções são essenciais para o nosso bem-estar e para nossa autopreservação.
Assim, não se trata de negar a importância, muito ao contrário, trata-se de valorizar e acolher todos esses sentimentos. Finalmente, é preciso definir juntos estratégias que podem ajudar pais e filhos a lidar melhor com a situação. Estes devem estabelecer acordos de como enfrentar um dia de cada vez e permitir-se experimentar com curiosidade, sem forçar os limites da criança. Estar sempre aberto, como pai e mãe, para ouvir e dialogar, é essencial nessa retomada gradativa.
É natural que nesse momento os pais sintam-se ansiosos para retomar a rotina o mais rapidamente possível, mas que ainda tenham medo do contágio das pessoas queridas, ou ainda uma mistura de ambos estes sentimentos. ‘’Para lidar com a ansiedade e o medo, lembre-se de que os seus pensamentos não são irracionais, claro, mas também não são necessariamente verdadeiros. Eles são apenas projeções da nossa mente e não refletem necessariamente a realidade’’, ensina Juliana.
Assim nestas horas, procure racionalizar, peça ajuda para um psicólogo se necessário, para dar um peso real às suas preocupações. ‘’Pergunte-se: Estes pensamentos são úteis? A situação que estou imaginando é muito provável de acontecer? É realista? Que atitudes eu posso ou devo tomar a respeito?’’, ensina Juliana.
A especialista ainda frisa que o mais importante nesse momento não é priorizar a retomada imediata do currículo escolar em atraso. O essencial é ajudar a criança a expressar o que viveu no último ano, seja por meio de rodas de conversa ou atividades lúdicas como artes, música e dança. As crianças, assim como os adultos, não estão “quebradas”, não precisam ser “consertadas”. Professores e coordenadores precisam, sim, ouvi-las, permitir que falem e expressem seus sentimentos em relação a tudo o que viveram para poderem processar internamente de forma adequada todos esses importantes acontecimentos. Não se trata, portanto, de um tempo perdido em termos de aprendizado, trata-se sim de novos aprendizados emocionais e sociais de extrema importância para a formação de cidadãos mais empáticos, resilientes e que valorizam a vida em sociedade.
Ainda assim, crianças tímidas e antissociais podem sofrer muito mais neste momento. Segundo Juliana, ‘’é natural que exista essa dificuldade especialmente para as crianças que não sentem falta da rotina escolar presencial. Nesses casos é importante investigar o porquê da criança não desejar ir para a escola: é por conta da rotina de aulas? Por causa dos professores? Devido aos colegas ou à metodologia pedagógica?’’. A partir dessa descoberta (que pode não estar clara mesmo para a própria criança), é preciso que os pais busquem experimentar gradativamente a volta às aulas, visto que o contexto escolar também mudou de forma significativa.
Para isso é preciso definir acordos como enfrentar um dia de cada vez, permitir-se experimentar com curiosidade, sem forçar os limites da criança. O diálogo constante é essencial para esse processo seja bem-sucedido. Caso ainda assim a volta à rotina escolar não dê certo, é necessário buscar então de comum acordo outras formas de atender essas necessidades, como mudar de turma, de professor (no caso das crianças mais novas), de escola ou até mesmo de metodologia pedagógica.
Juliana Zellauy é Especialista em Neurociência e Comportamento (PUC-RS), formada em Programação Neurolinguística pela Achology (Academy of Modern applied Psychology), em Psicologia Positiva pelo IPPC (Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento) e em Mindfulness pela Unifesp (Departamento de Medicina Preventiva). Possui experiência de mais de 15 anos em práticas meditativas, treinamento da mente e condução de grupos diversos. Juliana também é Gestora Ambiental com especialização em Educação Ambiental (USP), Gestão de Projetos Sociais (Senac) e MBA em Gestão da Sustentabilidade (FGV) com sólida experiência executiva em grandes corporações e no terceiro setor.
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